segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Pronto! Subi no caixote!


Essa é uma semana muito, mas muito importante. Sabem por quê?
Finalmente foi publicada a lista de espetáculos selecionados para um tal festival nacional de teatro de uma cidade aqui perto. O nosso espetáculo estava concorrendo e, gente, vocês não imaginam!
Eu estava ansiosíssima para logo ver o resultado, afinal... um trabalho...no teatro... o trabalho, não é pra gente, bicho de arte que é, bem trabalho. É filho. E filho é coisa séria.
Pois bem. Entrei no tal site onde lá estaria disponível a lista dos espetáculos selecionados e... grande surpresa!
Nós NÃO fomos selecionados. Mais uma vez... de quantas vezes? bom não interessa, afinal... foram muitas vezes.
Escrevo portanto pra reclamar. Botar a boca no trombone! Indignada feito uma pagu no palanque.
Claro, pois sou uma mocinha latino-americana que também resolveu dar uma queixadinha, pois também sei me lamentar à moda de nosso velho maluco beleza.
Não reclamar porque esse festival não nos contemplou, ou porque tal instituição "cultural" não nos tolera ou porque estou cansada de ver sempre os mesmos nomes figurando nos grandes circuitos. Não. Absolutamente.
O motivo de minha queixa diz-se respeito a algo que pareço ainda não compreender.
Tentarei explicar: assim: gostaria de entender o que se passa no interior das organizações de eventos artísticos como o tal festival que citei antes, quando ao afirmarem trabalhar no sentido de propagar e incentivar a cultura local quando dentre os dez espetáculos selecionados constam exatos SEIS trabalhos da capital metropolitana incluindo grande ABC.
Que diabo significa isso?
Será que estão querendo nos convencer de que o teatro que se faz no interior não presta, é primário e amador?
Se duvidam, peguem as listas dos selecionados para os últimos festivais no país e confirmarão o que estou dizendo. Bom... deve ser só em São Paulo que deve ter gente decente pra preencher essas listas.
Agora uma coisa importantíssima: não sou absolutamente contra a participação de grupos da capital nos eventos que ocorrem no interior. De maneira nenhuma. Penso até que seria bom se os grupos daqui fossem conhecer o que há lá na selva de pedra, ou melhor, de concreto.
O que me incomoda profundamente é a sensação de que o disputado "lugar ao sol", além de ser pra poucos  
é para os mesmos-de-sempre. Experimentem dar uma olhada nas programações dos sescs, sesis, grandes centros culturais, editais de fomento, incentivo à cultura, proac, prêmio estímulo e todas essas iniciativas que são até boas. Boas para quem mesmo?
Já passei pelo governo Collor, Itamar, FHC, Lula e agora Dilma. Francamente... para nós, que acreditamos na Arte como potência verdadeira de afirmação da vida, nada. Absolutamente.
Ainda mais agora que virou a moda do momento as tais "criações coletivas". Nada contra. Desde que não percamos a consciência da importância de autores significativos na história de nosso teatro e que, não sei se estou delirando, parecem ter sido abafados de uns anos pra cá. Como se tivéssemos esgotado o assunto de tal maneira, de modo que a concentração agora se volta inteiramente ao novo.
Temo que esses jovens atores que surgem a todo momento, com esse movimento de silêncio imposto sobre nossos velhos autores não reconheçam daqui a pouco a própria história.
É tão bom você chegar num teatro e assistir uma obra de um Shakespeare, um Brecht, um Ionesco, um Nelson Rodrigues, um Jorge Andrade, um Plínio Marcos, um Becket...
Mas onde podemos ter esse privilégio?
Na maioria dos festivais de teatro que acontecem pelo Brasil pelo menos não.
Pronto. Falei.